[Imagem retirada de: http://madoniram.blogspot.com/2010/08/androgino.html]
- Hey, você?! - Grita o manequim da rua sete.
Claudia, uma jovem de vinte e poucos anos classe alta bem vestida, se assusta com um grande manequim azul e indaga:
- Oi, é a mim que você chama?
-Claro e por um acaso você vê mais alguém aqui tão parecido comigo além de você?
Sem entender a jovem super desconfiada dispara:
-Imagina, você igual a mim? NUNCA! Eu ando livre e segura, tenho olhos que piscam, nariz e boca, eu respiro querido e mais não sou azul.
-Pois é, mas não vê que usamos as mesmas roupas caríssimas e finas?
-Sim vejo, mas eu as compro e exibo em jantares, teatros, festa e ão só em uma vitrine.
-Ora ora, assim a senhorita me ofende! Se não fosse por mim talvez as madames não se interessariam por essas lindas peças.Embora manequins como eu não sejam bonitos, eu e todas vocês, temos a mesma essência. Muita marca, glamour e pouca compaixão.Sou muito desejado ao longo do dia.Mas e o seres humanos aí jogados na vertical?Ninguém os percebe e quando reparam que estão ali sentem medo, trocam de calçada.Você sabe a diferença de valor da tua bolsa chanel e de um pão?Esses cidadãos sem marca, sem status, sem chão não lhe pedem um milhão eles somente precisam de atenção!
Samia Nascimento
Conto 2010
"Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda."
Eu etiqueta
Carlos Drummond de Andrade